Deputada Victoria Villarruel organizou evento em Buenos Aires e é voz ativa contra o que chama de terrorismo de esquerda
Porto Velho, RO - Centenas de pessoas protestaram nesta segunda-feira (4) ao redor da sede do Poder Legislativo de Buenos Aires, em repúdio a um discurso da deputada federal Victoria Villarruel, candidata a vice-Presidência pela chapa do ultraliberal Javier Milei, no qual homenageou as vítimas do que chamou de "terrorismo" de organizações armadas de esquerda durante a última ditadura militar argentina.
"As vítimas do terrorismo desapareceram da memória, foram varridas para baixo do tapete da história. Forma negados seus direitos à verdade, à Justiça e à reparação", afirmou Villarruel, em referência a grupos que disse terem imposto um "Estado autoritário, comunista, baseado na tirania". Pouco antes do evento, a candidata escreveu em sua conta no X, ex-Twitter, que "os direitos humanos são para todos".
Victoria Villarruel, deputada e candidata à vice-Presidência pela chapa do ultraliberal Javier Milei, ao chegar ao evento em Buenos Aires no qual homenageou vítimas de grupos armados de esquerda na década de 1970 na ArgentinaVictoria Villarruel, deputada e candidata à vice-Presidência pela chapa do ultraliberal Javier Milei, ao chegar ao evento em Buenos Aires no qual homenageou vítimas de grupos armados de esquerda na década de 1970 na Argentina
O evento no Salão Dourado da Casa homenageou as vítimas da guerrilha nos anos turbulentos que antecederam o golpe militar de 24 de março de 1976. O regime que se seguiu torturou, matou e sumiu com cerca de 30 mil pessoas em sete anos, de acordo com organizações de direitos humanos.
A organização que busca desaparecidos Mães da Praça de Maio, sindicatos e partidos políticos de esquerda repudiaram o evento e a fala de Villarruel por considerá-los "negacionistas" do terrorismo de Estado durante a ditadura.
A cerimônia ocorreu sob forte esquema de segurança, com barricadas que fecharam o acesso ao local, e houve princípio de confusão entre as forças policiais e os manifestantes contrários ao evento. O acesso ao local foi desorganizado e lento, e alguns funcionários da Casa contrários à realização do ato conseguiram entrar e gritar contra a deputada, segundo o jornal Clarín.
Também estavam presentes familiares de pessoas mortas em ações de guerrilhas de esquerda poucos anos antes do início do regime militar e políticos como a legisladora da cidade Lucía Montenegro, do A Liberdade Avança, partido de Villarruel e Milei.
Em fala que iniciou o evento, Montenegro afirmou que é necessária uma "memória integral e completa", dizendo que "uma verdade pela metade é uma mentira". Ela também usou a oportunidade para dizer que o grupo presente não defende a ditadura, "nem as trágicas consequências dessa violação do pacto democrático", repudia o regime militar de forma "clara e contundente".
Segundo os críticos, a homenagem de buscou reviver a chamada "teoria dos dois demônios", que equipara os atos da guerrilha ao terrorismo praticado pelo Estado.
"Esse tipo de reivindicação sobre a ditadura é uma violação dos direitos humanos e, infelizmente, tem representação institucional", disse a legisladora Victoria Montenegro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, filha de desaparecidos durante a ditadura e criada por família ligada a militares.
Victoria Villarruel, 48, é advogada e deputada federal pelo partido de Milei. Ela defendeu a existência de "uma guerra" durante a ditadura e considerou que a expressão "terrorismo de Estado" é "infeliz" e "confusa".
A deputada, que também preside o Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas, ONG criada em 2006 dedicada à "assistência às vítimas do terrorismo" na Argentina, tratou do tema no juramento ao cargo.
O fato levou forças políticas mais à esquerda a discutir um eventual projeto de lei contra o negacionismo dos crimes cometidos pelo regime militar argentino, algo que tem crescido entre a extrema direita e particularmente entre a população mais jovem, nascida já o período democrático.
Fonte: Folha de São Paulo
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